domingo, 19 de agosto de 2012

Ronaldo Cunha Lima: Paraíba perde um dos seus mais populares e carismáticos políticos



O ex-governador Ronaldo Cunha Lima, 76 anos, faleceu às 09h30 deste sábado em seu apartamento, localizado no bairro de Tambaú, em João Pessoa, em decorrência de um câncer de pulmão, que enfrentava desde 2011.

A informação foi dada pelo seu filho, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), no Twitter.

"Os Poetas não morrem! O Poeta Ronaldo Cunha Lima, após uma vida digna, descansou", postou Cássio no seu micro-blog.

Emocionado, Cássio também agradeceu a solidariedade do povo paraibano nos últimos momentos de vida do poeta.

"Louvamos a Deus pela bela existência do Poeta Ronaldo e agradecemos a todos por toda solidariedade!", disse o senador no Twitter.

Ronaldo nasceu na cidade de Guarabira, Brejo paraibano, em 18 de março de 1936. Formado em Ciências Jurídicas, ele era casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima e tinha quatro filhos: Ronaldo Cunha Lima Filho, Cássio Cunha Lima, Glauce Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.

Com uma história política de quase 50 anos, foi vereador, prefeito, deputado senador e governador. Além da política, se destacou no cenário nacional e internacional como o “poeta”. Ele também publicou diversos livros.
Biografia
Estudou no Colégio Pio X e no Colégio Estadual do Prata em Campina Grande. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da UFPB. É casado com Maria da Glória Rodrigues da Cunha Lima com quem tem 4 filhos: Ronaldo Cunha Lima Filho, Cássio Cunha Lima, Glauce "Gal" Cunha Lima e Savigny Cunha Lima.

Em 1951, iniciou a vida como vendedor de jornais, depois como garçom, no restaurante do seu irmão Aluísio, trabalhou na Associação Comercial de Campina Grande, na Rede Ferroviária do Nordeste e no Cartório de D. Nevinha Tavares, tudo isso para custear os seus estudos e ajudar as despesas domésticas, porque o seu pai, pobre, faleceu muito cedo, deixando D. Nenzinha com a responsabilidade de criar e educar a família numerosa. Ronaldo também desde jovem, já demonstrava vocação para a política.
Carreira política
Ainda estudante, Ronaldo foi representante estudantil e vice-presidente do Centro Estudantil Campinense.

Começou a sua carreira política sendo vereador de Campina Grande, e prefeito eleito em 1968, com posse em 31 de janeiro de 1969. Em 14 de março de 1969 teve os seus direitos políticos cassados, passando dez anos no ostracismo, indo para São Paulo depois para o Rio de Janeiro recomeçando a sua carreira de advogado. Anistiado, em 1982, foi reconduzido à prefeitura de Campina Grande, pelo voto popular, no seu mandato á frente da PMCG (1983/1989) teve como Vice-Prefeito Antônio de Carvalho Souza, um vice muito atuante na Administração, o qual assumiu a titularidade do mandato por trinta e três vezes no curso do mandato. Construiu o Parque do Povo com um projeto já criado pelo prefeito precedente Enivaldo Ribeiro, a terceira adutora, a Casa do Poeta, dentre outras obras. Foi governador do estado da Paraíba (1991/1994), Senador da República (1995/2002) e foi deputado federal, eleito em pela 1ª vez em 2002 com mais de 95 mil votos e reeleito em 2006 com 124.192 votos.
Poesia
Estudioso da obra do poeta Augusto dos Anjos, Ronaldo participou com brilhantismo, do programa de televisão, Show sem Limite, respondendo sobre a vida e a obra do grande poeta paraibano.
È autor da petição em versos intitulada de " Habeas Pinho" que está espalhado por diversos escritórios de advocacia , restaurantes e bares do Estado da Paraíba.

Membro da Academia Campinense de Letras, Membro do Conselho Federal da OAB. Ronaldo Cunha Lima ingressou na Academia de Letras em 11 de março de 1994, saudado pelo acadêmico Amaury Vasconcelos.
Em 2004, Ronaldo foi indicado para ocupar uma cadeira na Academia Paraibana de Letras (APL).
Ronaldo, lançou, entre outros livros, são eles:

50 canções de amor e um poema de espera, 1955
Livro dos tercetos - Em defesa da língua portuguesa (discurso no Senado Federal, 1998)
3 seis, 5 setes, 4 oitos e 3 noves - grito das águas (discurso no Senado Federal, 1999)
A seu serviço II, 1999
A seu serviço III, 2000
Roteiro sentimental – fragmentos humanos e urbanos de Campina Grande, 2001.
Breves e leves poemas, 2005
Velas Enfunadas, poemas à beira mar - Idéia/Forma - Editora , 2010
Poesias Forenses, Grafset/Max Limonad Editora João Pessoa - PB, 2002
Sal no rosto - sonetos escolhidos, Editora José Olympio, 2006
Poemas de sala e quarto, Geração Editorial, 1992
Poemas amenos, amores demais - Gráfica JB 2003
Azul itinerante, poesia policrômica - Editora José Olympio, 2006
Versos gramaticais, 1994
As flores na janela sem ninguém - uma história em verso e prosa , Editora José Olympio 2007
Caso Gulliver
Em 5 de novembro de 1993, o então governador da Paraíba, Ronaldo Cunha Lima disparou três tiros contra o seu antecessor, o ex-governador Tarcísio Burity (quando este almoçava com amigos) no Restaurante Gulliver em João Pessoa. Cunha Lima não aceitou as duras críticas e acusações que Burity supostamente fez ao seu filho Cássio Cunha Lima (na época do fato superintendente da SUDENE) em um programa de televisão local.

Tarcísio Burity ficou vários dias em coma, mas conseguiu sobreviver ao ataque. Ele morreu dez anos depois no dia 8 de julho de 2003, vítima de falência múltipla dos órgãos e de parada cardiocirculatória.
Renúncia
No dia 31 de outubro de 2007[1]. Ronaldo Cunha Lima renuncia ao mandato de deputado federal. A carta de renúncia foi entregue à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. De acordo com a carta, a renúncia é "em caráter irrevogável e irretratável".

O Supremo Tribunal Federal já havia marcado o julgamento de processo contra Cunha Lima pelo atentado a vida do ex-governador Tarcísio Burity. Com a renúncia ao cargo, o deputado perde seu foro privilegiado e o processo deverá ser enviado à Justiça comum.
Doença
O ex-governador Cássio Cunha Lima (PSDB), confirmou no dia 26 de Julho de 2011, via twitter, a situação da saúde do ex-governador da Paraíba e seu pai Ronaldo Cunha Lima, onde escreveu: " O diagnóstico do Poeta foi fechado: Adenocarcinoma no pulmão esquerdo. Ele fará apenas radioterapia e ficará curado. Obrigado pela solidariedade". Segundo Cássio Cunha Lima, um especialista do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, confirmou o diagnóstico como sendo Adenocarcinoma no pulmão esquerdo. Ronaldo foi diagnósticado com nódulos no pulmão devido ao fumo excessivo de cigarros. Ele fez as sessões de radioterapia no Hospital Sírio Libanês em São Paulo e a doença foi contida.
Poesia de Ronaldo Cunha Lima
Conversando com meu pai

 

Na quietude d'aquela noite densa,

reclamei numa saudade a presença

do meu Pai, que há muito já morreu!...

Sorumbático e só, fiquei na sala,

sem ouvir de ninguém uma só fala:

todos dormiam entregues a Morfeu.

 

Continuei sozinho da vigília,

contemplando a placidez da mobília,

num silêncio quase que perfeito;

quebrando apenas com o gemer da rede,

as pancadas do relógio na parede

e o pulsar do coração dentro do peito.

 

De repente, coberta com um véu,

uma nuvem nascia lá do céu,

na sala onde eu estava, caí...

era algo de espanto realmente

dissipa-se a nuvem lentamente

e vai surgindo a imagem do meu pai.

Boa noite, meu filho! E se assusta?

Tenha mais um pouco de calma, porque custa

novamente voltar por este trilho:

Eu rompi os umbrais da eternidade

para, em braços de amor e de saudade,

conversar com você, filho querido!...

Tenho assistido todos os seus passos,

suas lutas, vitórias e fracassos,

em ânsias que não posso mais contê-las:

eu lhe assisto, meu filho, todo dia,

em suas vitórias choro de alegria

e as lágrimas transformam-se em estrelas.

 

Tenho visto também seus sofrimentos

suas angústias, dores e tormentos

e esperanças que foram já frustradas;

tenho visto, meu filho, da eternidade,

o desencanto de sua mocidade

e o pranto de suas madrugadas.

 

Compreendo, também, sua tristeza

ante a ânsia que traz na alma presa

de adejar cortando monte e serra;

sua ânsia de voar, cantando notas,

misturar seu vôo ao das gaivotas,

que beijam os céus sem deixar a terra.

Mas, ao lado dos atos de grandeza,

você me causa, filho, também tristeza,

em desgosto minh'alma já flutua:

Ontem, porque não estava pronta a ceia,

prá sua mãe você fez cara feia,

bateu a porta e foi jantar na rua.

 

Você não soube, meu filho, e no entanto,

ela caiu prostrada em um pranto

soluçando seu íntimo desgosto.

 

Nunca mais, meu filho, isto faça,

pois para o filho não há maior desgraça

que em sua mãe deixar rugas no rosto.

Nunca mais a ofenda, nem de leve!...

O seu amor a ele aos céus eleve

e escute sempre, sempre o que ela diz.

Peça a Deus para durar sua existência

e, se assim fizer de consciência,

você, na vida,   tem que ser feliz.

 

Conduza-se na vida com altivez,

fazendo da probidade, da honradez,

para você o seu forte brasão;

aprofunde-se, meu filho, no estudo,

fazendo da justiça o seu escudo,

amando o povo como ao seu irmão.

 

Continue no trabalho a que se entrega

sem temer obstáculo nem refrega,

pois com a vitória sempre você vai,

e se assim fizer, querido filho,

sua vida há de ser toda de brilho,

e honrará o nome de seu pai.

 

E nisso a nuvem comoventemente,

aos poucos se junta novamente,

envolvendo meu pai num denso véu;

e num olhar meigo e bem sereno,

dirige para mim um triste aceno

e vai de novo subindo para o céu!

 

E eu fiquei chorando de saudade,

alimentando aquela ansiedade,

sem poder abrandá-la. Que castigo!

Por isso nunca mais dormi. Vivo na ânsia,

esperando que meu Pai rompa a distância,

prá vir de novo conversar comigo.

Fonte: Iparaiba
Redação Aroeiras On-Line

Nenhum comentário:

Postar um comentário